uma cidade toda feita de plástico

 A rua de ladrilhos históricos, reformulados

A livraria mais bonita do mundo, dos livros vendidos por metro

O barraco ocupado, por milionários

O mendigo analfabeto, que fala inglês e francês



Tá tudo uma merda!

 Tá tudo uma merda

o preço do pão, do leite e da carne.

Tá tudo uma merda,

o preço da renda, da água e da luz.

Tá tudo uma merda,

a falta de emprego, de casa e de paciência.

Tá tudo uma merda,

a solidão, a depressão e o desespero.

Tá tudo uma merda,

a raiva, a indigestão e a dor de cabeça.

Tá tudo uma merda,

o patrão, o gerente e o sub gerente.

Tá tudo uma merda,

o salário, a falta da grana e a divida do banco.

Tá tudo uma merda, 

o cliente, o oferecido e o recebido.

Tá tudo uma merda,

a empresa de 3 bilhões, o chefe sem moral e o vizinho insuportável.

Tá tudo uma grande merda,

a vida e a falta dela.

Tá tudo uma grande bosta,

o aquecimento global, a roupa rasgada e a cultura desgraçada.

Tá tudo uma bela de uma bosta,

a expectativa, a frustração e o choro.

Tá tudo uma bosta,

o tempo, sem tempo e atemporal.

Imigrante

Ninguém te escuta,
ninguém quer saber,
ninguém se importa.



aonde?

Eu já não sei mais quem sou,
nem da onde eu vim.

Eu atravessei a linha senhor,
 atravessei a linha do trem sem ver.

Eu vim atrás do mercado,
mas me perdi.

Eu não tenho nenhum documento, meu senhor.

Sim, sim, vim daquela direção.
Talvez da outra, não lembro.

Eu não me lembro.

Eu não lembro em que ano estamos.

Esse saco, dentro deste saco existe o meu eu, o "eu" passado -
sim, esta rasgado.

A vida Sr., não sei nada da vida,
ela nunca me ensinou nada,
talvez eu tenha a ensinado.

Quando e aonde eu vou?
Pego qual linha para casa?

E se eu tivesse sido bom?
e se eu tivesse aprendido?

Se eu fizesse tudo diferente,
não escutasse as músicas que escolhi,
e escolher com quem me deito sem ter me escutado?

Eu seria o bom suficiente para saber voltar para casa?
Eu saberia, meu Senhor, ser um bom menino?

Eu teria alguma piedade?

Me desculpa Senhor por estar ocupando seu tempo,
só quero uma informação:
Foi o mar que me levou ou eu que me entreguei ao mar?

Não estou vendo mais céu, o por quê de tanta chuva?
E por quê anda tudo tão dificil?

Vou atravessar a linha, acho que consigo,
é só seguir as águas, não é?

É só me olhar nas águas, não é mesmo?

Eu não consigo enxergar.

Estou vendo meu pai, acho que é por ali.
Vou fazer só uma pergunta para ele:
Eu te disse que te amava?

É isso então, vou indo.

Vou tentar, de novo,
voltar para minha casa.


Ninguém

Eu não sei mais o que falar.
Estou correndo faz tempo,
talvez no mesmo lugar,
mas correndo.

Eu não sei mais escutar.
Estou escutando a música,
a mesma de sempre.
Mas eu não sei te escutar.

Eu não sei mais amar,
e tanto faz.
Eu finjo o conviniente,
aceito o indiferente,
e não risco mais nada.

Eu não sei mais ser o melhor,
talvez nunca seja,
talvez eu nunca existi,
talvez o tempo falou de mais,
a música não soube me escutar,
e amei o nada do nada.
         
           -


Eu não sei mais ser ninguém,
talvez alguém,
mas ninguém.

O mundo

O que me rodopia,
Me pira,
Me vira
Me pifa.

O que me mata,
Vem do nada,
Me afoga,
Me amola.

O que me sufoca,
Me transforma,
Me molda,
Me apavora.

O que me abandona?

O carnaval de um tolo

Carnaval de um tolo,
amante da vida sem graça,
desgraçado do destino,
vive sambando no bloco errado,
vive surtando no bloco dos desesperados.

Despedida

- De fato eu não te procuraria nem se fosse o ultimo homem desse mundo. mas coloco a cabeça entre as pernas e não consigo não pensar em tudo que já senti. - Ela repetiu como se a vida fosse apenas aquilo, voltando ao ponto inicial e critico de toda aquela situação. Ela não nega. Ela não soma. Ela não sente mais porra nenhuma!
São apenas pernas sob pernas, caminhos sem luz, esperança sem fé.
O ultimo grito seria na avenida. Sem testemunhas, sem choro e sem ser notada.

Chá de camomila sem açúcar.




E em uma melodia calma, 
em piano,
mais contada do que cantada, 
tento te dizer coisas que já disse, 
mas em sentidos diferentes.

Eu tento desenhar, 
eu tento escrever,
eu tento te dar uma flor, 
eu tento te dizer:
"eu te amo",
e sai sem a graça interna.

E não é que não tenha sentimentos,
ao contrário, 
transborda, 
transforma,
abraça.

Mas não sei como decifrar,
não consigo detalhar, 
é um, 
dois,
quatro cigarros,
até chegar na mais pura delicadeza.

Eu te faço um chá de camomila,
sem açúcar,
e não é que não seja doce,
mas nosso amor não precisa mais 
de adesão nenhuma.

Te vejo,
arrumando os cachos,
escovando os dentes,
colocando amarelo,
vermelho,
preto, 
branco,
rosa.
E amarelo.

E entre as linhas ficam as dúvidas,
a declaração na hora certa,
o meu eu em você.

Você é cinema, 
eu canto "Piece of my heart",
como se eu fosse a trilha sonora,
do seu filme lindo de amor.

Você é meu poema,
a minha parte metafórica,
e real.
Eu sou seu chá, a música da Gal,
do carnaval, o apartamento 203,
a lua cheia, a lua minguante,
Holy Motors,
Tabu,
O Homem da minha vida,
Amour,
Manhattan...

E sinto amor,
amor platônico,
amor romântico,
amor moderno,
apenas amor.

E no final,
de um grito no peito,
transformado em sentimento,
e em apenas uma frase,
te digo o inesperado mais esperado
"Te amo".

E as canções de amor fazem sentido,
as flores são mais coloridas,
suas pintas são a imagem perfeita da perfeição,
e seu abraço se torna o meu melhor lugar.